se quiser saber um pouco mais do mesmo, nada de novo:

Passa tempo, escrever na condução

2 pequenos rascunhos de algum tempo atrás.
Um dia ainda passo a limpo:

Passa Tempo

(1997)
Corre por aí, companheiro,

Corre sem fronteira

Olha pra frente

Muita estrada inda falta

Olha pra trás

Muito chão já passou

Corre por aí, companheiro,

Corre, que vem o vento perseguir

Corre, se não passa o tempo

Corre que um dia chega lá

Lá chegando, passatempo será,

Fazer trova,

Tocar moda,

Ficar tranquilo, namorar.


O céu, da condução... o riso, exceção.

(2002)
Eu percebia que ele era do tipo de motorista quieto, sempre atento, seguindo seu caminho com cautela. Chamava minha atenção o fato que a cada parada ele dava uma rápida olhadela pro ceú, bem rápido mesmo, e um segundo depois volta ao ofício. Uma senhora que veio sentar-se ao meu lado me fez lembrar que ainda ontem eu pensava em amores que aparecem na vida da gente e levantam a poeira. Escrevia eu sobre o vento. Hoje vejo a confusão de desencontros urbanos e a metamorfose causada por estes amores.
Assim, contemplo o céu. O céu também é mutante, pois fica preto, azul, vermelho, laranja, amarelo, quase-branco... qual é a cor do céu, nesse minuto, nessa meia-hora entre quinze pra seis e seis e quinze? Possui o céu multifaces, a cada momento se transforma, a cada segundo se misturam multicores e a diversidade se acentua a cada instante. Agora, noitinha que chega, é quase hegemônico o azul-marinho, que também começa a se metamorfosear.
Olho ao redor as pessoas vindo do trabalho, voltando pra casa e outras indo trabalhar, estudar. Vejo uma uniformidade no balaço dos corpos e também no semblante e no silêncio. Por mais perto, encostadas que estejam as pessoas que fazem o mesmo itinerário, não significam que são próximas. Não há proximidade! Como aqui é diferente lá do interior. Lá, o comum é puxar um papo... saber quem está do seu lado, sua família, donde vem de pr´onde vai. Aqui não. Cada um se fecha no seu mundo. Até mesmo o motorista no rápido instante em que olha pro céu.
Sabe, assim como as várias e diferentes cores do sol no anoitecer é o sentimento de cada pessoa. Cada um que tem seu jeito de ser, seu modo de amar. Cada um que percebe a maneira especial de lidar com os demais e sabe que sentir só de um jeito não é sentir. Sentir, leigo que sou, penso, é viver a diferença, a multidimensão sentir isso e sentir aquilo, sentir assim e sentir assado, sentir aqui e sentir acolá. Veja, não é difícil, descobrir o sentimento é o mesmo que descobrir o céu e ver os multicamihos da emoção. Anular as diferenças e aprisionar um sentimento é matar e morrer.
Mais que observar o motorista por alguns minutos, naquele agitado fim de tarde de sexta passei a olhar o céu paulistano, limpo, por exceção naquele dia, preparando a chegada de uma rara noite de estrelas. Faça isso também: olhe o céu durante um dia, suas cores, seus mistérios. Veja as transformações repentinas que ocorrem, assim como as que ocorrem em nossos sentidos e sentimentos de cada pessoa.

Esta historinha boba, me fez rir. A Capital faz isso: muda a face, o humor, o rumo e a pulsação das pessoas, fazendo do belo, raridade e do riso, exceção.

CW

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