se quiser saber um pouco mais do mesmo, nada de novo:

Pesquisas em Educação, Pedagogia e Vestibular

Orientação Pedagógica da Educafro
Esta é uma seção que pretende oferecer aos os professores uma lista de sítios de bibliotecas que possam contribuir com as suas pesquisas e para difusão da cultura. Se você conhece algum site que não consta nessa lista.


Baixe livros e teses
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp
http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/index.php?storytopic=1700
http://www.teses.usp.br/
http://www.zequinhabarreto.org.br/CN03/biblio_marxista/biblio_marx.asp


Site específico para o vestibular
http://www.fuvest.br/
http://www.comvest.unicamp.br/index.html
http://www.vunesp.com.br/


Baixe livros para vestibular
http://www.estudantes.com.br/bib_virt.asp


Bibliotecas virtuais
http://prossiga.ibict.br/bibliotecas/
http://sitededicas.uol.com.br/biblio.htm
http://www.unicamp.br/nipe/litera.htm


Material por disciplina
http://www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/didaticos_e_tematicos

Sites referentes à Matemática:
www.ime.usp.br/caem
www.ime.usp.br/lem
http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/
http://www.rpm.org.br/
http://www.somatematica.com.br/

Sites referentes à Química
http://www.qmc.ufsc.br/

Sites referentes à Biologia
http://www.cve.saude.sp.gov.br/
www.pnud.org.br/home

Sites referentes à Física
http://www.ifi.unicamp.br/

Revista Carta Capital na escola
http://www.cartanaescola.com.br/online


Apoio ao professor
www.portaldoprofessor.mec.gov.br
www.objetoseducacionais.mec.gov.br


Universidades públicas de São Paulo
http://www.usp.br
http://www.ufabc.edu.br/
http://www.unifesp.br/
http://www.unicamp.br/
http://www.unesp.br
http://www.ufscar.br
http://www.cefetsp.br/lwp/workplace
http://www.fatecsp.br/


Testes e provas de vestibulares
http://www.fatec2007.com.br/vestibular/provas%5Fanteriores/
http://www.fuvest.br/


Institutos de pesquisa
http://www.inep.gov.br/

MEC
http://portal.mec.gov.br/index.php

Memórias burras nunca esquecem

Este texto é do grande escritor Rubem Alves.
Muitos já o conhecem. Alguns afirmam que Alves diz o óbvio.
Mesmo o óbvio, tem que ser dito por alguém.
Agradecemos a ele por isso.

É duvidoso que um professor que há anos se dedica a pesquisas de biologia molecular ainda se lembre de como resolver problemas estatísticos de genética. Também os professores dos cursinhos: cada um passaria brilhantemente na disciplina de sua especialidade. Mas também é duvidoso que um professor de português consiga resolver problemas de química ou física. Com eles, os professores que elaboram as questões que os alunos terão de responder. Para eles, vale o que foi dito sobre os professores dos cursinhos. Por fim, os diretores das empresas que preparam os vestibulares...

Essa hipótese desaforada poderia ser testada facilmente: bastaria que os personagens acima mencionados se submetessem aos vestibulares. Claro: seria proibido que se preparassem. O objetivo seria testar o que foi realmente aprendido. O que foi realmente aprendido é aquilo que sobreviveu à ação purificadora do esquecimento. O aprendido é aquilo que fica depois que o esquecimento faz o seu trabalho...

Vestibular: porta de entrada para a universidade? Seria bom se sua função se limitasse a isso. O sinistro está não no que é dito, mas no que permanece não dito: os vestibulares são um dragão devorador de inteligências cuja sombra se alonga para trás, cobrindo adolescentes e crianças.

Desde cedo, pais e escolas sabem que a escola deve preparar para os vestibulares. Os vestibulares, assim, determinam os padrões de conhecimento e inteligência a serem cultivados. Mas não existe nada mais contrário à educação que os padrões de conhecimento e inteligência que os vestibulares estabelecem.

O escritor Mário Prata escreveu uma crônica sobre as meninas jogadoras de vôlei. Era uma crônica leve, bem-humorada, picante. Era impossível não sorrir ao lê-la. Lida, ficava para sempre na memória, pois a memória guarda o que deu prazer. Passados alguns meses, ele voltou ao assunto da primeira numa crônica dirigida, se não me engano, ao então senhor ministro da Educação. É que sua primeira crônica fora usada, na íntegra, num exame vestibular.

Para um escritor, ter uma crônica transcrita, na íntegra, num exame vestibular, equivale a uma consagração. Mário Prata estava felicíssimo. Exceto por um detalhe: os examinadores, para transformar sua crônica em objeto de exame, prepararam uma série de questões sobre ela, cada uma com várias alternativas de resposta. Mário Prata resolveu, então, brincar de vestibulando. Tentou responder às questões. Não acertou uma! (Eu me saí pior do que ele. Tentei responder às questões, mas houve algumas que nem mesmo entendi!)

Se o vestibular fosse para valer, ele teria zerado no texto que ele mesmo escrevera. Ele se dirigiu, então, ao senhor ministro da Educação comentando esse absurdo. E perguntou se não teria sido muito mais inteligente se os examinadores, gramáticos, tivessem pedido que os moços escrevessem um parágrafo sobre seu artigo. Aqueles saberes esotéricos que lhes eram pedidos nunca teriam qualquer uso em suas vidas. Compreende-se que, como resultado do seu preparo para os vestibulares, os jovens passem a detestar literatura.

Minha filha queria ser arquiteta. Como não havia outro caminho, matriculou-se num cursinho. Eu a via sofrer tendo de memorizar coisas que não lhe faziam sentido. Fiquei com dó e, por solidariedade, resolvi fazer um sacrifício: passei a estudar com ela. Estudei meiose e mitose, as causas da Guerra dos Cem Anos, cruzamento de coelhos brancos com coelhos pretos... Estudei também, contra a vontade e sem interesse, a necropsia da língua chamada análise sintática. Não sei para que serve. E dizia à minha filha, à guisa de consolo: "Você tem de aprender essas coisas que você não quer aprender porque a burocracia oficial assim determinou. Mas não se aflija. Passados dois meses, quase tudo terá sido esquecido. Só sobrarão os conhecimentos que fazem sentido...". Pergunto a você, meu leitor: de tudo o que você teve de estudar para passar no vestibular, o que sobrou?

Por que nós, professores universitários, não passaríamos no vestibular? Por termos memória fraca? Não. Por termos memória inteligente. Burras não são as memórias que esquecem, mas as memórias que nada esquecem... A memória inteligente esquece o que não faz sentido. A memória viaja leve. Não leva bagagem desnecessária.

E aí eu pergunto: se nós, professores já dentro da universidade, não passaríamos nos exames vestibulares, por que é que os jovens, que ainda estão fora, têm de passar? É irracional. Especialmente em se considerando que irá acontecer com eles aquilo que aconteceu conosco: esquecerão... Haverá uma justificação pedagógica para esse absurdo? Ainda não a encontrei.

http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/r_alves/id270303.htm


Sobre o que se diz sem dizer

Encontrei isso a algum tempo.
Ficou guardado na gaveta.

Sobre o que se diz sem dizer

"Que rara beleza era aquela, que não se compra em banca de revista e quase não se vê na novela." Sexta-feira. Havia parado de garoar. O ônibus seguia nem tão cheio, nem tão vazio, sempre acelerado, o mesmo caminho, igual a todo dia. A moça seguia em seu silêncio-introspecção, lá no fundo, com o seu fone de ouvido, seu olhar distante mirando o nada pela janela, Viajando de pé (só eu e mais 2 passgeiros), eu a via sentada no penúltimo banco. Ela fazia poucos sinais com os dedos, com a cabeça, como quem acompanha a música, em ritmos alternados, ora mais rápido, ora mais lento. Ela tinha um jeito... uma beleza meio jogada, distraída. Nisso, eu me distraí, observando a menina que ouvia o seu MP3 e acabei passando do meu ponto . Pensei: "melhor ir até o final mesmo e depois voltar. Tô sem nada pra fazer em casa mesmo!"

E olhando pra rua, tentando espairecer, flagrei uns moleques jogando bola num terreno. Acabava de abrir um solzinho meio fraco. de fim de tarde em fim de inverno. "Como eu queria tá no meio deles". Consegui um lugar pra sentar. Bom pelo cansaço, mas ruim porque eu não teria mais como olhar mais para aquela jovem. Houve uma freiada brusca. Um susto geral . Aí pensei: "será que eu tô ficando apaixonado?" Mais uma parada, eu olho pra trás. Lá está ela, enigma no rosto, cabelo black, corte e penteado afro, solto, unhas pintadas, mochila cor de laranja, tênis, calça jeans, anel de casca de côco, colar preto, brincos em forma de sol, batom quase imperceptível, um rosto ao mesmo tempo dócil e cansado, terno e sério, com a marca do tempo e aparentando criança, que idade teria? Em que estaria pensando? Que música ouviria? "Que rara beleza, que não se compra em banca de revista e quase não se vê na novela". Quando o ônibus faz uma curva e pára no próximo ponto, sobem várias pessoas ao mesmo tempo. Vários estudantes, um homem, um casal de idosos, uma mulher nova com criança no braço e uma senhora de uns 45... 50 anos, tornando o espaço um pouco mais concorrido. Esta senhora tinha um sorriso aberto, encantador e olhos concentrados. No clima leve e desligado que eu vinha nos últimos minutos, fiquei ali parado, observando cada figura, cada um e cada uma que entrava na condução, um bêbado, um aposentado... De repente percebi que a minha nova amiga, do fone de ouvido, lá do fundo, havia sumido. Desceu sem dar notícia. Beleza-passageira. De onde teria vindo? Para onde foi? Bem do meu lado, estava a senhora que falei, aparentado seus 45 anos. Não quis assentar. De pé, com seu vestido colorido, tipo colcha de retalhos, cheio de detalhes em luas e estrelas, tirou algumas balas caseiras do bolso e as ofereceu, pedindo ajuda. Falava com um belo sotaque do norte. Algo assim do Pará ou Amazonas. Poucos compraram. Fiquei com algumas e saltei antes do final. Resolvi voltar a pé pra casa. Há tempo não caminhava à noite pelo bairro.

Não parei de pensar no silêncio-intuitivo da moça e seu rosto indecifrável. E também no vestido colorido da senhora das balas e mãos calejadas. Esta última, por fim, me transmitiu um ar sereno, caboclo-indígena, de quem sabe o que está fazendo e tem a exata noção do que é viver. Teria vindo há quanto tempo? Teria filhos? Netos? Teria outro trabalho que não vender balas? E aquele vestido... tantas cores... fortes como as cores sul-americanas... seriam as cores de seus antepassados? Seriam retalhos costurados de cada marca latina que a cidade grande faz em seus moradores de passagem?

Quem sabe um dia re-encontro essas duas mulheres e aprendo um pouco mais sobre a vida e o quanto temos a obervar naquilo que poucos vêem, nos momentos simples, no que se diz sem dizer.

Passa tempo, escrever na condução

2 pequenos rascunhos de algum tempo atrás.
Um dia ainda passo a limpo:

Passa Tempo

(1997)
Corre por aí, companheiro,

Corre sem fronteira

Olha pra frente

Muita estrada inda falta

Olha pra trás

Muito chão já passou

Corre por aí, companheiro,

Corre, que vem o vento perseguir

Corre, se não passa o tempo

Corre que um dia chega lá

Lá chegando, passatempo será,

Fazer trova,

Tocar moda,

Ficar tranquilo, namorar.


O céu, da condução... o riso, exceção.

(2002)
Eu percebia que ele era do tipo de motorista quieto, sempre atento, seguindo seu caminho com cautela. Chamava minha atenção o fato que a cada parada ele dava uma rápida olhadela pro ceú, bem rápido mesmo, e um segundo depois volta ao ofício. Uma senhora que veio sentar-se ao meu lado me fez lembrar que ainda ontem eu pensava em amores que aparecem na vida da gente e levantam a poeira. Escrevia eu sobre o vento. Hoje vejo a confusão de desencontros urbanos e a metamorfose causada por estes amores.
Assim, contemplo o céu. O céu também é mutante, pois fica preto, azul, vermelho, laranja, amarelo, quase-branco... qual é a cor do céu, nesse minuto, nessa meia-hora entre quinze pra seis e seis e quinze? Possui o céu multifaces, a cada momento se transforma, a cada segundo se misturam multicores e a diversidade se acentua a cada instante. Agora, noitinha que chega, é quase hegemônico o azul-marinho, que também começa a se metamorfosear.
Olho ao redor as pessoas vindo do trabalho, voltando pra casa e outras indo trabalhar, estudar. Vejo uma uniformidade no balaço dos corpos e também no semblante e no silêncio. Por mais perto, encostadas que estejam as pessoas que fazem o mesmo itinerário, não significam que são próximas. Não há proximidade! Como aqui é diferente lá do interior. Lá, o comum é puxar um papo... saber quem está do seu lado, sua família, donde vem de pr´onde vai. Aqui não. Cada um se fecha no seu mundo. Até mesmo o motorista no rápido instante em que olha pro céu.
Sabe, assim como as várias e diferentes cores do sol no anoitecer é o sentimento de cada pessoa. Cada um que tem seu jeito de ser, seu modo de amar. Cada um que percebe a maneira especial de lidar com os demais e sabe que sentir só de um jeito não é sentir. Sentir, leigo que sou, penso, é viver a diferença, a multidimensão sentir isso e sentir aquilo, sentir assim e sentir assado, sentir aqui e sentir acolá. Veja, não é difícil, descobrir o sentimento é o mesmo que descobrir o céu e ver os multicamihos da emoção. Anular as diferenças e aprisionar um sentimento é matar e morrer.
Mais que observar o motorista por alguns minutos, naquele agitado fim de tarde de sexta passei a olhar o céu paulistano, limpo, por exceção naquele dia, preparando a chegada de uma rara noite de estrelas. Faça isso também: olhe o céu durante um dia, suas cores, seus mistérios. Veja as transformações repentinas que ocorrem, assim como as que ocorrem em nossos sentidos e sentimentos de cada pessoa.

Esta historinha boba, me fez rir. A Capital faz isso: muda a face, o humor, o rumo e a pulsação das pessoas, fazendo do belo, raridade e do riso, exceção.

CW

Jornalismo de Ficção...

Jornalismo de Ficção, Democracia Racial e outras mentiras

O Negro e a Mídia: reflexões sobre comunicação de massa e a população afro-brasileira.
Por se dizerem um grupo de empresas de comunicação que luta pela liberdade de imprensa no Brasil, as Organizações Globo deveriam ser favoráveis ao debate racional. Na prática, evitam o enfrentamento e ridicularizam a luta pela inclusão social. De maneira covarde, a Ação Afirmativa foi abolida do noticiário e virou piada no programa humorístico "Casseta e Planeta". Em sua nova campanha publicitária, as "Organizações Tabajara" se apresentam como "a única empresa que tem na logomarca uma letra afrodescendente admitida pelo sistema de cotas". Tamanho impropério fez pairar uma dúvida sobre a expressão "humor inteligente". Talvez por genialidade, talvez por burrice, as Organizações Tabajara acabam satirizando as Organizações Globo. Uma faz o que a outra finge não fazer: vende produtos obsoletos a pessoas com preguiça de pensar e de agir.
As Organizações Globo ora ridicularizam, ora espalham temores do surgimento de um possível ódio racial. Servem-se das falácias de dois extremistas e da inacabada teoria da Democracia Racial para defender sua política anti-inclusão. Usam o cinismo do seu assustador de criancinhas e comentarista oficial, Arnaldo Jabor, para dizer que "somos todos iguais". Não bastasse mentir em rede nacional, ainda encomendam teses "por atacado" de um sujeito que se tornou um perseguidor voraz da Ação Afirmativa com recorte racial. Ao contrário do que prega o Sr. Demétrio Magnoli, os intelectuais afrodescendentes (financiados pela Fundação Ford) não dividiram a sociedade brasileira em raças. Eles apenas tiveram sensibilidade e faro científico para perceber que o Brasil está racialmente dividido há mais de 500 anos. Para enxergar isso, não é necessário ser doutor em Geografia Humana pela USP. Qualquer aspirante a militante do Movimento Negro conhece de cor a história da cor no Brasil.

Um pesadelo aterroriza a alta cúpula da "Fábrica de Sonhos". Se aprovado o Estatuto da Igualdade Racial, todas as empresas de comunicação –inclusive as Organizações Globo– estarão obrigadas a abrir 20% de seus postos de trabalho aos afrodescendentes. É possível que as telenovelas não comportem tamanha oferta de mão-de-obra. Afinal, não há tantos banheiros a serem lavados nem tanta grama a ser aparada no setor de figuração. Na área do jornalismo, talvez não seja tão difícil substituir o insubstituível William Bonner. O competente Heraldo Pereira (reserva oficial) não seria tão ingênuo e insensato a ponto de comparar o público do telejornal mais assistido do país ao Homer Simpson. Nas palavras do garoto-propaganda e editor do "Jornal Nacional", o referido personagem da ficção lhe serve de inspiração na fabricação das notícias que entrarão no ar. Em essência, foi dito que o povo brasileiro deve se sentir honrado por ser comparado a um sujeito que nunca leu um livro e segue cegamente os preceitos de uma religião chamada Televisão.
A prepotência das Organizações Globo atingiu um nível tão "elevado" que o ilusionista e chefe de jornalismo Ali Kamel tenta, por meio de um trabalho especulatório, refutar o que o cineasta Joel Zito Araújo prova cientificamente. O primeiro lançou uma coletânea de artigos publicados no jornal "O Globo", no qual ataca e tenta desqualificar toda tentativa de se promover a inclusão social de negros por meio da Ação Afirmativa. Ironicamente, "Não somos racistas" é o título do livro. De maneira desavergonhada, a personagem "Gislene", da telenovela "Duas Caras" (exibida depois do "Jornal Nacional"), apareceu mais de uma vez lendo esse mesmo livro. Gislene, interpretada pela atriz Juliana Alves, é vista como uma jovem politicamente engajada e contrária a qualquer forma de preconceito. Definitivamente, não sabemos onde termina o "Jornal Nacional" e onde começa a "novela das oito". É uma fronteira tênue que só pode ser percebida graças aos "reclames do Plim-Plim".
No campo da Ciência, Joel Zito Araújo –em sua pesquisa de doutorado em Ciências da Comunicação que virou livro– prova (usando estatísticas e fatos concretos) que os negros têm sido ignorados na televisão brasileira ou são retratados de maneira estereotipada. "A negação do Brasil - O Negro na Telenovela Brasileira" mostra que num período de duas décadas, apenas 29 das 98 tramas exibidas possuíam personagens negros. Zito dá destaque a uma das maiores violências morais já sofridas pela população afrodescendente do país. No ano de 1969, a Rede Globo exibiu a telenovela "A cabana do Pai Tomás". O protagonista era um negro interpretado por Sérgio Cardoso, branco de nascimento. Para viver o personagem, o ator e também roteirista (que na época era considerado um dos maiores galãs da televisão brasileira), teve seu corpo pintado de tinta preta e usou rolhas para alargar o nariz e o beiço. Na ocasião, Milton Gonçalves, negro de nascimento, já era considerado um dos maiores atores nacionais e (conforme a crítica especializada da época) tinha plenas condições de protagonizar a telenovela. Mesmo que a arte seja um manancial inesgotável para múltiplas interpretações da vida do mundo, não há licença poética que justifique tamanho desvario.

Ainda que muitos tentem provar o contrário, as clarividências mostram que as Organizações Globo preferem esconder as mazelas do país a ajudar a eliminá-las, seja na ficção, seja no jornalismo. Quisesse, mobilizaria suas equipes de reportagem para retratar a vida dura dos afrodescendentes que vivem sobre palafitas nos mangues maranhenses. Para citar um exemplo da degradação da vida e do desrespeito aos Direitos Humanos, o caranguejo come a bosta do homem, que depois come o caranguejo. Tudo isso acontece sob o reinado e descaso de um dos homens mais poderosos da história do Brasil, o coronel e ex-presidente da República e do Senado Federal José Sarney.

O Jornal Nacional e os demais veículos de comunicação precisam dizer que mais de 60% da população do estado do Maranhão vive abaixo da linha da pobreza. Ou seja, mais de 3,5 milhões de pessoas precisam enriquecer para chegar a ser pobres. Coincidência ou não, os dados do último censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 72% da população daquele estado é afrodescendente. Na região, está concentrado o maior número de comunidades quilombolas do país. Contrariando os interesses dos latifundiários, esses quilombolas podem ser beneficiados pela Ação Afirmativa que as Organizações Globo e seus sequazes tentam barrar no Congresso Nacional. Não há nada mais anacrônico, nem nada que justifique a existência das capitanias hereditárias e das palafitas no século 21. Ingênuos e astutos de todo o mundo, ouvi: Onde há latifúndio, há miséria!
É fundamental que os leigos e os letrados entendam que os defensores da Ação Afirmativa não reivindicam privilégios. A luta é pela dignidade e pela possibilidade de se poder ter acesso às oportunidades em pé de igualdade. Ação Afirmativa não é apenas incluir afrodescendentes no Ensino Superior e no mercado de trabalho. Ação Afirmativa também é matar a fome, o piolho e a lombriga. Ação Afirmativa não é a cura para as doenças sociais. Ação Afirmativa é terapia paliativa. Tem o mesmo efeito da pinguinha barata que se toma no lugar do café-da-manhã. Não sara, mas alivia a dor.

Jorge Américo

um dia como hoje *


Acordou cedo. Não queria atrasar de jeito nenhum. Tomou café preto. Quase esqueceu de levar a tal “apostila de cidadania” pela qual pagou três reais. “Gente, este é o preço de custo, da fotocópia”. O trajeto levaria mais ou menos uma hora e meia até o centro. Ao entrar no ônibus viu um lugarzinho pra sentar no fundo. “Vai dar pra tirar um sono”. Antes de se ajeitar começou a folhear a apostila de umas dez páginas: “Essa apostila tem por finalidade informá-lo(a) sobre os princípios e a filosofia que norteiam o projeto Educafro, com os textos Sete atos oficiais que decretaram a marginalização do povo negro no Brasil e Universidades públicas e ações afirmativas...”
Acordou cedo, mais cedo do que o normal. Desprezou o café da empregada. O pai o apressou. “Te deixo no ponto, vamos! Você parece que não sabe o valor que eu pago nesse colégio”. Pegou de relance o encarte da aula especial de história. Calçou o Hellbender novo e foi. O percurso de ônibus seria uns 40 minutos. “Será que aquela menina vai na festa hoje? O esquema é ir de carro na festa... sem carro não rola”. Abriu o livrinho em qualquer página. “Capítulo 8: A geração de maio de 68”. Passou para uma folha um pouco antes e leu: “os principais líderes da Revolução Cubana, em 1959, eram jovens, entre eles, Ernesto Guevara, que aos 20 anos de idade já percorria o continente com o amigo Alberto Granado...”
Acordaram bem cedo, como era costume. “Gente andando pra lá e pra cá na rua pertuba”. O sinal que um fez pro outro era de confirmação. O mais velho apontou para o ônibus que vinha. Subiram no ônibus os dois e ficaram perto do cobrador. “Você leva a caixa de doce, e eu cuido do resto, mano, certo?”
“Putz meu, tem que estudar mais se quiser ir pra fora fazer medicina. Será que rola mesmo? Se não for medicina, vai turismo ou farmárcia. É melhor ir pra fora e ter liberdade. Demorou!”. Voltou na parte do livro sobre 1968: “a juventude de Paris protestava com a mesma força que outros jovens ao redor do mundo. Nesta época também eclodiam fortemente os movimentos por igualdade racial nos Estados Unidos”.
Apesar de cochilar um pouco lá fundo, o susto com a lombada fez o sono sumir. Voltou a ler a tal apostila. “Será que vai ser rápido esta palestra?” Uma parte ilustrada chamou atenção: “Quem se preocupa apenas com quantas horas se estuda, esquece do desperdício de tempo de estudo. Uma hora de estudo com qualidade vale mais do que 5 horas sem qualidade – dica do William Douglas para a Educafro”.
Passou um ponto mais movimentado e algumas pessoas desceram. “O que é isso, como que vai passando ser pagar assim?” É melhor ficar quieto cobrador!” “Motô, segue seu roteiro que vai ser rapidinho aqui”. E apontou a arma (debaixo da camisa?) para o cobrador. Umas senhoras gritaram, sem saber como reagir. “Pessoal, presta atenção só na caixa de doce que eu tenho pra vender aqui... esquece o resto, nem olha pro colega não, ele vai ser rápido”. “Mano, vem polícia aí na frente, corre, vamo!” E deu um empurrão em quem tava em pé, foi pro fundo e quando a velocidade diminuiu, pulou fora. “Filho da puta, cê amarelou?” Correu também, tirando a mão da camisa. Não tinha arma nenhuma, não tinha nada, aliás, nem experiência, nem coragem de roubar. Vontade? Mais ou menos... Necessidade? Muita.

Uma senhora: “tem que levar pra cadeia mesmo, bater!” O rapaz do colégio rico sussurrou: “é tudo preto fedido...” O cobrador: “pegaram os dois, olha lá, se deram mal, levaram os caras.” Alguém no canto: “como que pode uma coisa dessa? Aquilo é marmanjo.” O rapaz da apostila de cidadania não disse nada, apenas ficou percebendo os detalhes de cada cena, cada nuance, decodificando a realidade exposta.
Houve mudança na política da FEBEM. O diretor daquela Unidade era outro. O discurso, porém, o mesmo. O monitor que os recolheu também era outro, mas nem perceberam seu semblante. Ali era o lugar-comum. “Cara, foi vacilo, foi mal”. “Na próxima vez a gente...” O funcionário: “Os meninos são novos no pedaço, né?” Melhor falar menos, certo? Os dois!”

Desceu no Anália Franco. Era dia de festa no colégio, com atividade especial de manhã e simulado à tarde. “É hoje meu, nem aqui eu fico”. E foram vários, do terceiro colegial para a lanchonete. Dali para o shopping, caixa-automático e cinema. Cigarro e cerveja era comum. Mas queriam conhecer algo diferente. De outras fontes, outros negócios. “Trouxe o dinheiro?”
Desceu no parque Dom Pedro e foi a pé até a Riachuelo. “Sejam bem-vindos! O projeto Educafro, que é muito mais que um pré-vestibular, acolhe vocês com alegria. Quem não adquiriu a apostila de cidadania pode levantar e retirar ali na mesa. Meu nome é Heber e a gente preparou um slide para vocês acompanharem melhor o conteúdo”. Ele tomou água, escolheu um bom lugar e ficou pensando nos dois jovens. Reparou: “são negros como eu. Caramba, a maioria é mulher”. No microfone: “Antes disso pessoal, eu queria perguntar uma coisa: quem aqui tem um sonho?” CWB

"Mesmo que eu tenha que cruzar terras e mares
Eu vou pra Palmares, Eu vou pra Palmares
Mesmo que no caminho me sangrem os calcanhares
Eu vou pra Palmares, Eu vou pra Palmares
Mesmo que os inimigos contra nós sejam milhares
Eu vou pra Palmares, Eu vou pra Palmares
Enfrento os Borba Gato e os Raposo Tavares
Eu vou pra Palmares, Eu vou pra Palmares..."

poema de Dugueto Shabazz

*Nome de uma canção da banda Ira!, de Edgar Scandurra.

Josías, Helton e Roberta são nomes fictícios


Josías, de Santa Catarina: Ele nunca reclamou de ter que trabalhar e nem tinha preguiça, mesmo sabendo que o seu pai não lhe pagaria um "tostão" para que fosse o seu ajudante. Foi na roça que ele aprendeu a lidar com medidas, pesos, distâncias e com as linguagens da natureza. Encantamento. O dia começava cedo para Josías. Sempre foi assim. Quando o pai disse que precisava dele trabalhando, a rotina se sacramentou. A mãe o "derrubava" da cama às 4:15 e antes das 5:00 Josías já estava com a enxada ou o restelo na mão. Determinação.

O tempo passou. Mesmo sem fazer cursinho encarou o vestibular na Capital. Passou na 4ª chamada. Na vida de universitário, acordar cedo não era problema. Os pais de Josías deram o aval para o garoto optar pelo curso no período matutino. Logo no terceiro mês de faculdade, a seleção para o estágio no IBGE confirmou a expectativa dos professores de Josías. Ele foi aprovado em 2° lugar na prova e pôde então ocupar-se das 13:00 às 18:00 horas com um trabalho envolvente, dentro do seu campo de estudo. Foi lá que conheceu a nova namorada Luana, uma das poucas alunas negras do curso de Odontologia na Federal, com quem conheceu a cidade de Floripa, em seus inesquecíveis passeios de domingo.

Helton, do Rio de Janeiro: Cala a boca! Já pra fora! Pra fora! Helton tinha ainda 7 anos. Não havia opção senão acatar a ordem. Voltava pra favela triste por não sair na mesma hora que seus coleguinhas, mas feliz (curiosamente feliz) por não precisar ficar mais nenhum minuto perto daquela professora loira que tanto o infernizava. Desespero. A vida de Helton e dos meninos do morro quase sempre foi "barra pesada". O objetivo da maioria era ter aquilo que tinham os "donos da quebrada", normalmente traficantes: Poder. Para os meninos de 9, 10, 12 anos, ter poder era simplesmente ter armas e várias namoradas ao mesmo tempo. O sonho verdadeiro, utópico, era jogar no Flamengo, no Vasco ou cantar em um grupo de samba. Ilusão.

Para Helton, ser o filho mais velho o tornava um pai-irmão dos outros 6 mais novos. Passar da 8ª série, lembrando sempre dos gritos da "carrasca", foi inusitado. Fazer o colegial foi mais bacana, talvez por ter os três colegas "playboys" na sua sala, que lhe davam atenção. Esses três colegas eram a exceção na sala. Às vezes, Helton até levava a maconha pra eles.

O tempo passou. Quando viu a cara do pessoal da sua turma no primeiro ano de Medicina na UERJ, mesmo já estando com 27 anos (6 anos "parado" e 2 anos de cursinho comunitário), ele lembrou dos colegas "classe- média" do colegial. A diferença era que ele e os outros três alunos negros da sala eram a exceção agora. Helton não trocava a tarde de sábado por nada, já que era único momento em que podia brincar com o irmãozinho mais novo (o sétimo... fruto do namoro novo da mãe). Adorava colocar o jaleco no menino e pedir para o "pretinho" consultá-lo e lhe dar receitas pra comprar remédio...

Roberta de São Paulo: Os dias de chuva chegavam a ser engraçados (isso se não fossem trágicos). A escola de Roberta era a "campeã" do bairro em vidros quebrados e também em pichação. Além das infiltrações na parede, a "chuva de vento" fazia chover dentro da sala, inclusive na carteira de Roberta. Da 6ª série ao 1° colegial, a turma de Roberta teve inúmeras trocas de professores e professoras. Química, inglês, física, geometria... só nos livros. Naquela escola tinha de tudo, menos aula. Comédia?

A região metropolitana oferecia grande facilidade de deslocamento entre uma cidade e outra, para quem procurava emprego. Por pelo menos três vezes Roberta recebeu indicações de amigas para ir trabalhar em casa de família. A mãe dela, analfabeta, diarista desde os 15 anos de idade, foi contra. Disse que enquanto a filha não terminasse os estudos, não iria permitir que ela trabalhasse fora. Numa reunião na escola, em época de enchente, a mãe de Roberta brigou com a Diretora e o conselho da escola decidiu chamar os pais (que estavam desempregados) para reformar o prédio. Muita gente deu o nome, mas só dois apareceram. Vexame.

O tempo passou. Quando Roberta passou no vestibular de uma faculdade pública nem mesmo os professores acreditaram. Que faculdade era aquela que o pessoal da escola nem conhecia? Na formatura da sua turma, muito mais do que uma citação feita pelo reitor ou a emoção durante a fala da oradora, foi o abraço na mãe que a sacudiu por dentro: Engenheira! Recém aprovada no concurso público federal, uma das melhores notas da turma!

Um pouco mais sobre o tema: O professor universitário Marcelo Stratemberg, pesquisador da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), realizou estudos em vista de fornecer àquela instituição de ensino público federal subsídios acerca de diferentes métodos de ações afirmativas. A UFSC estava disposta a usar sua autonomia para adotar algum mecanismo que diminuísse o fosso abismal de desigualdade de acesso a seus cursos, principalmente entre brancos e negros. Verificou-se, com projeções e sérias pesquisas acadêmicas, que o modelo ideal é o de reserva de vagas, único capaz de garantir o ingresso de negros nos cursos da UFSC. Marcelo, que estudou também a proposta de bônus ou pontuação acrescida (como USP e Unicamp), concluiu que o melhor modelo para quebrar a tradição excludente é a reserva mínima de 20% das vagas para negros. A universidade percebeu que a adoção de cotas apenas com caráter social (estudantes da rede pública), não garantiria acesso de negros. Escolas particulares e filhos de famílias ricas de Santa Catarina ingressaram na Justiça contra o sistema de cotas. Mobilizaram-se em defesa de seus seculares privilégios. Perderam. Perderam feio. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou que a autonomia da universidade deve ser preservada neste caso.
Josías, personagem deste texto, só alcançou a aprovação no vestibular por causa do sistema de cotas. Ele foi o primeiro membro de sua família de colonos pobres do oeste catarinense a fazer um curso superior. Assim como Josías, outros milhares de jovens oriundos de escolas públicas ingressaram em 51 universidades públicas brasileiras que adotam ações afirmativas para pobres, negros, indígenas, mulheres, portadores de deficiência física, filhos de policiais, professores da rede pública, etc... com diferentes métodos, mas sempre com intenção de diminuir as desigualdades e cumprir o papel social da universidade. Parabéns à UnB, UFPR, UFBA, UEMS, UEMG, UFPE, UEBA, UEGO, UFRN...
A primeira universidade pública a adotar cotas no Brasil foi a UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, no vestibular de 2002/2003, juntamente com a UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense. O jovem Helton, citado no texto, faz Medicina na UERJ, que está avaliando os resultados dos 5 anos do sistema de cotas. Logo no primeiro ano, uma pesquisa demonstrou que, em geral, as notas dos cotistas (ingressantes por meio de cotas) são maiores do que as notas dos não-cotistas. O índice de evasão (desistência) entre aqueles que estudaram em escolas particulares, é maior do que entre os cotistas (negros, indígenas e estudantes de escolas públicas)3. Hoje, inicia-se um novo ciclo, um novo perfil social de profissionais formados pelas universidades estaduais do Rio.
A imprensa noticiou, em fevereiro de 2008, que no vestibular da USP/FUVEST o curso de Medicina teve apenas um negro (preto) na lista de aprovados. Há anos o percentual de aprovados da rede pública é quase zero nos chamados "cursos de elite". A USP nega-se a adotar qualquer medida com recorte étnico-racial e insiste no falido INCLUSP, alvo de ação do Ministério Público e que, pelo segundo ano consecutivo provou ser ineficaz quanto a seu propósito inicial: incluir estudantes da rede pública, dentre os quais, os negros, historicamente excluídos da maior universidade pública do Brasil.
Também na Grande São Paulo, há quilômetros de distância da USP, a garota Roberta, a qual se referiu este texto, freqüenta as aulas na Universidade Federal do ABC (UFABC) que, desde sua criação, em 2005, reserva 50% das vagas para estudantes da rede pública, sendo 30% para negros, em atenção ao percentual de negros no Estado de São Paulo. Todas as universidades federais presentes no Estado de São Paulo aprovaram o sistema de cotas. A primeira foi a UNIFESP – Escola Paulista de Medicina, que ampliou 10% do número de vagas e as reservou para estudantes negros. Recentemente a UFSCar também aprovou a reserva de 20% de suas vagas para estudantes negros. Na USP, negros não passam de 9% (somados os pretos e os pardos), em âmbito geral. Nos cursos de Direito, Odontologia, Administração, Publicidade, entre outros, são invisíveis. Ou melhor... às vezes 1, 2 ou 3 alunos negros, quase sempre africanos em programas de intercâmbio. Por que tanta exclusão? Por que fugir da responsabilidade diante de um problema tão grave? É o dinheiro da coletividade que mantém a USP. Já não basta ter constatado que o desempenho acadêmico dos egressos de escolas públicas tem sido melhor? Medo de conflitos étnico-raciais? Ou manutenção de privilégios e espaços de poder? O que leva a Reitoria da USP a ser tão conservadora e elitista?
Josías, Helton e Roberta são nomes fictícios. Poderiam ser verdadeiros. Pessoas como eles talvez não tenham a chance de ler este texto. Quem sabe suas histórias se repitam numa das esquinas da vida, nas histórias de Juliana, André, William, Grace, Joana, Maria, José, Paulo César, Fábio, Everton, Antonio Carlos, Janaína, Fernanda, Joaquim, Graziele, Marcelo, Francisco, Geralda... tantos que sonham em entrar numa universidade e as universidades lhes fecham as portas e jogam no lixo suas capacidades e talentos.
Tanta gente caminha por esse mundão e procura o seu rumo, o seu lugar. E se, de repente, a gente se encontrar e puder caminhar junto? Muito mais do que esses meninos e meninas das periferias do Brasil, o fato é que milhares de lutadores estão alcançando o direito de estudar por causa das ações afirmativas e das cotas.
Iniciar a carreira universitária é apenas o primeiro passo em busca da inclusão! A responsabilidade das universidades e do Estado para com a inclusão social e étnica é bem maior do que aquilo que está sendo feito hoje. Estão deixando muito a desejar. Há muito que se fazer. Ainda vamos cobrar muito da USP, UNESP, UFMG, UFRJ e demais universidades que, com a sua omissão, perpetuam a discriminação, o racismo, a exclusão social, as desigualdades. Nossa luta e desafio são grandes. Como cantava Raul Seixas: Baby essa estrada é comprida... a gente ainda nem começou! CWB

"auto-consciência".


17-06-08. Esta é uma poesia grande, com cara de texto de jornal, escrita a 6 mãos. Jogue umas palavras no papel (ou no teclado). O dia do aniversário está entre os mais fortes para deixar o coração falar o que quer. Faça hoje um balanço (sem exagero, claro) do que passou, assuma um compromisso alcansável para o próximo e celebre, celebre o dia, sozinho, com sua companheira ou companheiro, com as lembranças, com as memórias. Tem que ser assim. Os últimos anos estão sendo bons demais. Nós (a turma toda) somos e estamos prósperos, saudáveis vanguardas em tudo. Sem modéstia, há um bom futuro pela frente. Vejo chácaras... crianças... bons filmes.. boas músicas.. violões afinados... risos e gente feliz por todo lado. Sem contar que daremos conta de jogar futebol. Há sim. Tempo houve que lamentei ter nascido depois de uma geração interessante. hoje vejo que nascemos num período de gestação de uma nova geração ('pois que sonhe, a que há de vir...'). temos tudo pra conciliar as "questões políticas" com esses valores indispensáveis da vida e do lazer. No dia do seu aniversário, ou no dia do meu, do dela, do nosso, seja qual for, quero pra você e pra mim tudo o de melhor que possa existir. Tudo o que Deus inventou e fez no mundo pra dar alegria. De cada coisa que existe, uma beleza se tira e pode ser transformada em presente. Mesmo que eu levasse tudo pra você, ou roubasse tudo pra mim, seria pouco. Quero pra você, tudo o que tenho. Quero pra você, tudo o que você queira, Tudo aquilo que sonhar e um dia espera ter, tudo o que já tem, que tenha em dobro e um pouco mais, caso dê felicidade por um minuto ou por toda a vida. É bom dizer sempre e ouvir: "Sou muito feliz por estar do seu lado". Como brinca o Rubem Alves, "Só quero um presente... Vocês crianças, quando pensam em aniversário, dão risada e ficam felizes. Aniversário é dia de festa e presentes. Toda criança quer que o tempo passe depressa para ficar mais velha, deixar de ser criança e ficar adulta. Acham que ser criança é coisa ruim, porque crianças não são donas do seu nariz, não fazem o que querem. Bom mesmo é ser grande. Os grandes fazem o que querem e não precisam pedir permissão. Criança é passarinho sem asas. Adulto é passarinho com asas: voam bem alto e vão aonde as crianças não podem ir. No dia do aniversário as crianças olham para frente: imaginam que está chegando o dia quando elas terão asas e poderão voar. Pois esse dia chegou. Meu aniversário me diz que agora sou velho. Ser velho tem vantagens. Uma delas é ser avô. Vocês só existem porque eu deixei de ser criança e fiquei velho. No dia do meu aniversário os números vão mudar, como mudam no rodômetro, aquele aparelhinho no painel do carro que marca a quilometragem. Está lá "67" e aí, de repente, o "7" dá um pulo e o "8" aparece no seu lugar. Esse é um jeito de marcar o tempo, contando os números. Jeito bobo. Os números não dizem nada. Há um verso sagrado que diz: "Ensina-me a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos corações sábios." Muita gente envelhece sem ficar sábio. O que é um sábio? Sábio não é quem sabe muito. Sábio é quem come a vida como se ela fosse um fruto saboroso. O sábio presta atenção nos prazeres e alegrias de cada momento. E o que dá prazer e alegria não são coisas grandes, festas com bolo, bexigas e presentes. O que dá alegria são coisas pequenas. Por exemplo: brincar com um cachorrinho. Balançar num balanço. Andar na água fria de um riachinho. Ver um ipê florido. Ler um livro. Armar um quebra-cabeças. Ver fotografias antigas". Se tiver que ser por um só dia, que seja hoje, se tiver que ser a vida inteira, que se renove a cada amanhecer, o presente mais importante: a paixão e o sentimento de pertença ao mundo dos sorrisos. "É, cumpadre meu, que te dizer? Já sabes, mais tarde passo aí pra um abraço". êta vida boa e boba, meu pai, de ficar velho, de ficar mais moço. De ficar mais, moço, ficar mais... ficar mais... ficar mais... ficar mais...

O Velho e o Moço
Rodrigo Amarante

Deixo tudo assim.
Não me importo em ver a idade em mim,
Ouço o que convém.
Eu gosto é do gasto.

Sei do incômodo e ela tem razão
Quando vem dizer que eu preciso sim
De todo o cuidado.

E se eu fosse o primeiro
A voltar pra mudar o que eu fiz.
Quem então agora eu seria?

Ahh tanto faz! E o que não foi não é,
Eu sei que ainda vou voltar... Mas, eu quem será?

Deixo tudo assim, não me acanho em ver
vaidade em mim.
Eu digo o que condiz.
Eu gosto é do estrago.

Sei do escândalo e eles têm razão.
Quando vem dizer que eu não sei medir,
nem tempo e nem medo.

E se eu for o primeiro
a prever e poder desistir do que for dar errado?

Ahhh, ora, se não sou eu quem mais vai decidir
o que é bom pra mim?
Dispenso a previsão.

Ahhh, se o que eu sou é também
o que eu escolhi ser aceito a condição.

Vou levando assim.
Que o acaso é amigo do meu coração
Quando falo comigo, quando eu sei ouvir...

O Velho e o Novo
Taiguara


Deixa o velho em paz
Com as suas histórias de um tempo bom
Quanto bem lhe faz
Murmurar memórias num mesmo tom

A sua cantiga, revive a vida
Que já se esvai
Uma velha amiga, outra velha intriga
E um dia a mais

Vão nascendo as rugas
Morrendo as fugas a as ilusões
Tateando as pregas
Se deixa entregue às recordações

Em seu dorso farto
Carrega o fardo de caracol
Mas espera atento
Que o céu cinzento lhe traga o sol

Ele sabe o mundo
O saber profundo de quem se vai
O que não faria
Pudesse um dia voltar atrás

Range o velho barco
Lamento amargo do que não fez
E o futuro espelha
Esse mesmo velho que são vocês

De onde vem a violência?


Repressão contra movimentos sociais: um relato sobre ações arbitrárias do Estado contra o movimento negro e as organizações populares.

São Paulo, 21 de Agosto de 2007. Fãs de Raul Seixas caminhavam pelo centro de São Paulo, lembrando os 18 anos de sua morte. Na mesma noite, militantes representantes de 40 organizações sociais (estudantes, camponeses, negros, sem-terra, mulheres, sindicalistas, quilombolas) realizavam uma atividade da Jornada Nacional em Defesa da Educação Pública em todo país, com eventos culturais, passeatas, mobilizações, debates e inúmeros encontros com o objetivo de despertar a atenção da população para diversas pautas de valorização da Educação em todos os níveis. Ocupou-se o pátio da Faculdade de Direito da USP, simbolizando o protesto contra a exclusão de pobres e negros da USP. Pela madrugada, a atividade é interrompida: A Tropa de Choque da Polícia Militar invade o espaço público do Largo de São Francisco e violentamente reprime, com cassetetes, fuzis, metralhadoras, insultos e ameaças, prendendo os 300 militantes presentes. Motivo da prisão: nenhum. Desrespeito à Lei: inúmeros. Apenas para ilustrar: crianças e jovens ficam ao relento na Rua Riachuelo por horas sem acesso a advogados; proibição da imprensa de se aproximar; proibição dos frades franciscanos de falar com militantes; humilhações de toda espécie. Na delegacia, horas após o uso da força, não é aberto nenhum inquérito. A ordem para a ação da Tropa de Choque foi dada pela alta cúpula do Governo do Estado (Secretário de Segurança Pública e Governador José Serra), com aval do diretor da faculdade da USP e do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil. Naquela noite, no mesmo campus, dois debates haviam tratado do tema Inclusão e Educação Superior, seguido de um show de MPB com o cantor Tom Zé. Na internet e num filme produzido por universitários, é possível saber mais detalhes desses atos arbitrários. O acontecido remete-nos aos anos de chumbo da ditadura militar quando, em 1968, a Faculdade de Direito havia sido invadida pela PM.


Santo André, ABC-Paulista, 18 de Outubro de 2007. Universitários e professores pediam a saída do Reitor Odair Bermello, da Fundação Santo André. O movimento reivindicatório realizava greve, com adesão de professores e universitários da instituição. Mais uma vez o Governo trata a questão social como caso de polícia e dá ordens à Tropa de Choque da PM para reprimir a mobilização. Desta vez a violência física é escancarada e vários estudantes são covardemente agredidos. As imagens na internet e nos jornais televisivos comprovam a incapacidade das autoridades de dialogar e respeitar os direitos humanos.


Bairro Perdizes, São Paulo, 10 de Novembro de 2007. Universitários da Pontifícia Universidade Católica – PUC/SP manifestam-se contra a política de reestruturação da universidade, que incluía demissões de professores e funcionários. O tratamento dado foi similar aos anteriores. Pela primeira vez, após os anos de ditadura militar, o tradicional espaço de liberdade de expressão e de organização social dos estudantes foi tomado por 110 policiais da Tropa de Choque. A última invasão da PM na PUC foi há 30 anos, por mando do Coronel Erasmo Dias. Acusa-se os movimentos de usarem métodos também violentos, ou seja, a ocupação de uma universidade.


Ao tratar do assunto no Boletim da Associação Juízes para a Democracia (AJD) nº 38, João Pedro Stédile, da direção nacional do MST, reporta-se à década de 1990, momento em que as classes dominantes passam a adotar políticas econômicas e sociais neoliberais. "O neoliberalismo é uma forma de apresentar a ideologia dos ricos. Trata-se da subordinação de toda economia brasileira aos interesses do capital internacional". Stédile continua explicando como o sistema financeiro e a concentração de renda são complementados pela ação do Estado, quando exerce a repressão social. "O Estado é cada vez mais repressor e controlador dos pobres em geral. O brasileiro pobre, jovem ou negro é alvo permanente da polícia. Já os pobres que resolveram se organizar em movimentos sociais, como o MST, movimentos por moradia, passe-livre etc., o Estado age com seus serviços de inteligência, fazendo escuta telefônica, vigiando lideranças, plantando informações falsas na imprensa, manipulado os meios de comunicação sob o controle das elites. E, se julgar necessário, aciona o aparato do Poder Judiciário e da Polícia contra os movimentos".


A História do Brasil retrata muito bem a violência contra os grupos sociais organizados, desde sempre. A campanha militar para derrubada dos Quilombos (o maior exemplo foi Palmares), a guerra que culminou com a destruição de Canudos (entre tantas outras revoltas populares reprimidas com uso da força) são exemplos históricos de como o Estado atual herdou a postura de truculência contra as insurgências sociais. A história oficial é escrita e contata pelas mãos da elite, da forma que lhe interessa. Sendo assim, quase sempre as informações são distorcidas de modo a atender os interesses da elite. O que nós sabemos da organização dos Quilombos? Na escola, foi-nos ensinado sobre o grande endividamento financeiro para comprar canhões da Inglaterra, com o objetivo de destruir Palmares?


Em 1910, "nas águas da Guanabara" marinheiros pertencentes ao quadro da Marinha, protestaram contra os castigos corporais aplicados ao grupo, entre os quais as famosas chibatadas. O objetivo do governo da época era disciplinar, com o uso da força, da ameaça. Usava-se o castigo da chibata como exemplo para que não se repetisse atitudes ou desobediência a ordens superiores. Um resquício da escravidão. Conhecido como "Almirante Negro", o jovem João Cândido liderou uma grande revolta dos marinheiros. No dia do aniversário da cidade do Rio de Janeiro tomou de assalto vários navios. Para mostrar que o protesto era sério, Almirante Negro e seus companheiros apontaram os canhões dos navios para a cidade. Naquela madrugada de 16 de novembro a Guanabara estava repleta de navios estrangeiros que aportavam para a posse do Marechal Hermes da Fonseca na Presidência da República. Só com a ameaça de bombardeamento da capital federal o governo aceitou que se parasse com o castigo das chibatas. Mas o Governo baixou um decreto regulamentando o afastamento dos marinheiros julgados indesejáveis e, em seguida, mandou prender 22 deles, entre os quais alguns participantes da revolta.
Este é um ponto crucial do nosso debate: até quando os grupos políticos, que desempenham importante papel na democracia com suas propostas, reivindicações e cobranças, serão reprimidos pela polícia? Ao invés de dialogar, buscar soluções e cumprir seu papel com sérias políticas públicas, a maioria dos governantes usa a força ou permite que a elite faça o mesmo, como no caso dos conflitos por terra e chacinas de trabalhadores rurais em acampamentos.
Um primeiro passo para mudarmos esse quadro de opressão é a tomada de consciência! Por outro lado, é nosso compromisso-cidadão exigir responsabilidade por parte das secretarias de segurança pública, chefes de gabinete, comando das polícias, agentes públicos (policiais civis, federais, militares, GCM etc.), assessores técnicos, enfim, daqueles que decidem e daqueles que aplicam as políticas governamentais na prática. Devemos cobrar respeito às diferenças culturais, à diversidade étnica, às divergências ideológicas e punição severa aos que agridem os direitos humanos e agem com arbitrariedade e selvageria em relação aos movimentos sociais.


É importante refletirmos: como o governo de nossa cidade, nossos representantes no Poder Legislativo, o governo do Estado e o governo Federal têm respondido às demandas do povo negro e pobre por terra, pão e paz? Como o estado tem agido frente às pressões populares pelo acesso à educação? Como podemos cobrá-los?


Autor: Cleyton Wenceslau Borges

Ocupar novamente a USP

Ocupar novamente a USP e denunciar os privilégios da elite branca conservadora!

A Edição 27, da Revista Carta Escola (www.cartanaescola.com.br) trouxe uma entrevista com a Pró-reitora da USP, Selma Garrido, na qual a dirigente da USP responsabiliza os próprios estudantes da rede pública pela exclusão patrocinada pela Universidade, afirmando que existe "auto-exclusão" por parte dos estudantes pobres e que a outra parte da culpa ela atribue ao ProUni. Veja trechos da reportagem "Lenta, gradual e restrita", de Livia Perozim:

"No último vestibular da USP, o de 2008, 140 mil jovens concorreram a 10 mil vagas. Entre os aprovados, cerca de 75% são provenientes de escolas privadas e 25%, de escolas públicas. A discrepância não seria tão assustadora se, no estado de São Paulo, 85% dos alunos do Ensino Médio não estudassem na rede pública de ensino." Questionada sobre a Representação feita pela Educafro ao Ministério Público Estadual, pelo fato do Inclusp ter sido pouco discutido com a sociedade e o meio acadêmico, a Reitora dá uma discarada resposta, assumindo a postura anti-democrática: "Se discutíssemos com a sociedade, engessaríamos uma decisão. A USP é uma universidade plural, que tem grupos com diferentes perspectivas. Há membros dessa academia que são radicalmente contra qualquer ação da universidade na direção de inclusão de qualquer natureza. É uma força que expressa essa perspectiva conservadora".

A revista pergunta: "Como o Inclusp garante que agregando estudantes de escola pública está incluindo negros?"
Selma: "Os resultados desses dois anos do Inclusp mostraram isso. Houve um aumento."
Revista: "De 0,9% de negros?"

Mais uma vez a dirigente da USP brinca com o povo e provoca...
Selma: "Sim, isto é um aumento. Não é o aumento que o Movimento Negro gostaria. Mas estamos falando de lugares diferentes. O que a USP tem clareza é que não temos como alterar as condições de base que produziram a desigualdade neste país. O estudante que aqui ingressa é da escola particular e pode pagar escola e cursinho. Com algumas exceções de ótimas escolas particulares, você também tem muitas escolas particulares com uma qualidade que deixa a desejar"...

A Pró-reitora admite em seguida o caráter elitista da Instituição...
Revista: "A USP não é excludente?"
Selma: "A USP é excludente e, ao admitir isso, estamos tentando mostrar uma perspectiva de mudança. Mas também estou sendo absolutamente aberta em afirmar que nós não somos ingênuos de acreditar que de um dia para o outro faremos uma grande transformação."

Cabe-nos reafirmar: é importante destruir a mentalidade elitista ocupar novamente a USP!! O advogado da Educafro, Cleyton Wenceslau Borges lembra que "em dois anos de implementação do Inclusp, nenhum dos objetivos foi alcançado: não atraiu e não aprovou mais alunos da rede pública. Pior: o percentual de estudantes de escolas públicas na primeira convocação da Fuvest diminuiu. Em 2007, eram 26,1%. Em 2008, caiu para 25,3%. Como o programa não contempla recorte sócio-econômico e étnico, o fracasso foi absoluto no que diz respeito à inserção de pobres e negros". Esta constatação se traduz em estatísticas da própria USP. Cleyton cita que, "na comparação entre ingressantes de 2006 e 2007, dos 322 estudantes de escola pública que não teriam entrado sem a bonificação, 87 são negros. O total de ingressantes na USP em 2007 soma 10.189. Os beneficiados pela política afirmativa representam, então, 3,2% do corpo estudantil que entrou este ano na primeira chamada do vestibular. Os negros que entraram pelo Inclusp somam apenas 0,85% desse total."

Um dado chocante é que entre 2006 e 2007, diminuiu a parcela de estudantes com renda familiar das duas faixas inferiores (até R$ 500 e de R$ 500 a R$ 1,5 mil). Enquanto isso, aumentaram todas as parcelas de calouros de famílias de faixas superiores - desde os com que ficam entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil até aqueles em que a renda ultrapassa R$ 10 mil.
Para o físico Marcelo Tragtenberg, professor na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e especialista em políticas afirmativas, o Inclusp não promoveu a inclusão em 46% dos cursos. "Em 67 dos 146 cursos, não melhorou, ou piorou, a porcentagem de estudantes de escolas públicas. Isso sem considerar se essa melhora foi significativa ou não", explica. Analisando a entrada de negros na USP, completa o especialista, a situação é ainda mais grave. Nada mudou em quase a metade (71) dos cursos. "Quando se desenvolve um sistema de bônus, seria recomendável que isso se adequasse aos cursos", critica.

Por isso, conclamos a todos os movimentos organizados na luta pela Educação Pública a ocuparem novamente a USP e denunciar os privilégios da elite branca conservadora!!!

Uma revista na USP, inteiramente sobre Cotas!

Desde que ocupamos a USP no ano passado e batemos de frente contra o Inclusp, temos nos destacado nos questionamentos públicos em favor de ações afirmativas nas universidades públicas, na USP em especial. Mais um resultado veio agora: a edição número 43 da Revista Adusp (Cotas no Brasil - Um panorama da aplicação de políticas afirmativas nas universidades públicas) acaba de ser publicada e está excelente! Parabenizamos a Adusp na figura do companheiro Antonio Biondi!

"O que os dados indicam é que já vivemos quase que em um sistema de cotas: só que para brancos e para os segmentos mais ricos da população. Pode-se argüir que se trata apenas de uma exclusão econômica, mas o que os dados indicam é que há um claro viés étnico neste processo, que faz com que para um dado extrato socioeconômico os negros recebam menores salários e avancem menos na escolarização." Dizem José Marcelino de Rezende Pinto - do Departamento de Psicologia e Educação da USP e Rubens Barbosa de Camargo - do Departamento de Administração Escolar e Economia da Educação da USP, em um artigo da revista.
Em uma das matérias, Douglas Belchior, professor de história, da coordenação
da Educafro, entende que houve "avanços enormes" nas políticas afirmativas no Brasil nos últimos anos. "Em São Paulo, especialmente. é a ilha do elitismo no ensino superior, a grande ilha da exclusão, do preconceito, do racismo", e onde se evidencia a "briga com a nata da burguesia nacional, apoiada pela imprensa conservadora e contrária às cotas". De acordo com Belchior, a Educafro defende que as "cotas para negros nas universidades têm que ser proporcionais à população do Estado e do país". Assim, "se em São Paulo há 31% de negros, tem que ser 31% de vagas". Paralelamente às cotas para negros, a entidade defende cotas sócio-econômicas e para as escolas públicas. Renato Ferreira, pesquisador do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LPP-UERJ), onde coordena o Programa Políticas da Cor, explica que "as cotas são uma das formas de políticas afirmativas ou de inclusão", para Renato, trata-se de "um processo lento e gradual, mas profundamente transformador", que "promove a diversidade" e coloca "um fim à invisibilidade das desigualdades raciais".
o conteúdo integral da revista. Está garantido que cada núcleo da Educafro receberá um exemplar para trabalhar nas aulas de "Cultura e Cidadania". Ao todo são 7 matérias especiais, com 43 páginas sobre Cotas!

Os 80 anos de Fidel: confidências


Os 80 anos de Fidel: confidências
O que vou publicar aqui vai irritar ou escandalizar os que não gostam de Cuba ou de Fidel Castro. Não me importo com isso. Se não vês o brilho da estrela na noite escura, a culpa não é da estrela mas de ti mesmo.

Em 1985 o então Card. Joseph Ratzinger me submeteu, por causa do livro "Igreja: carisma e poder", a um "silêncio obsequioso". Acolhi a sentença, deixando de dar aulas, de escrever e de falar publicamente. Meses após fui surpreendido com um convite do Comandante Fidel Castro, pedindo-me passar 15 dias com ele na Ilha, durante o tempo de suas férias. Aceitei imediatamente pois via a oportunidade de retomar diálogos críticos que junto com Frei Betto havímos entabulado anteriormente e por várias vezes.

Demandei a Cuba. Apresentei-me ao Comandante. Ele imediatamente, à minha frente, telefonou para o Núncio Apostólico com o qual mantinha relações cordiais e disse:"Eminência, aqui está o Fray Boff; ele será meu hóspede por 15 dias; como sou disciplinado, não permitirei que fale com ninguém nem dê entrevistas, pois assim observerá o que o Vaticano quer dele: o silêncio obsequioso. Ei vou zelar por essa observância". Pois assim aconteceu.

Durante 15 dias seja de carro, seja de avião. seja de barco me mostrou toda a Ilha. Simultaneamente durante a viagem, corria a conversa, na maior liberdade, sobre mil assuntos de política, de religião, de ciência, de marxismo, de revolução e também críticas sobre o deficit de democracia.


As noites eram dedicadas a um longo jantar seguido de conversas sérias que iam madrugada a dentro, às vezes até às 6.00 da manhã. Então se levantava, se estirava um pouco e dizia:"agora vou nadar uns 40 minutos e depois vou trabalhar". Eu ia anotar os conteúdos e depois, sonso, dormia.

Alguns pontos daquele convívio me parecem relevantes. Primeiro, a pessoa de Fidel. Ela é maior que a Ilha. Seu marxismo é antes ético que político: como fazer justiça aos pobres? Em seguida, seu bom conhecimento da teologia da libertação. Lera uma motanha de livros, todos anotados, com listas de termos e de dúvidas que tirava a limpo comigo. Cheguei a dizer: "se o Card. Ratzinger entendesse metade do que o Sr. entende de teologia da libertação, bem diferente seria meu destino pessoal e o futuro desta teologia". Foi nesse contexto que confessou: "Mais e mais estou convencido de que nenhuma revolução latino-americana será verdadeira, popular e truinfante se não incorporar o elemento religioso". Talvez por causa desta convicção que praticamente nos obrigou a mim e ao Frei Betto a darmos sucessivos cursos de religião e de cristianismo a todo o segundo escalão do Governo e, em alguns momentos, com todos os ministros presentes. Esses verdadeiros cursos foram decisivos para o Governo chegar a um diálogo e a uma certa "reconciliação" com a Igreja Católica e demais religiões em Cuba. Por fim uma confissão sua: "Fui interno dos jesuitas por vários anos; eles me deram disciplina mas não me ensinaram a pensar. Na prisão, lendo Marx, aprendi a pensar. Por causa da pressão norte-americana tive que me aproximar da União Soviética. Mas se tivesse na época uma teologia da libertação, eu seguramente a teria abraçado e aplicado em Cuba." E arrematou:"Se um dia eu voltar à fé da infância, será pelas mãos de Fray Betto e de Fray Boff que retornarei". Chegamos a momentos de tanta sintonia que só faltava rezarmos juntos o Pai-Nosso.
Eu havia escrito 4 grossos cadernos sobre nossos díálogos. Assaltaram meu carro no Rio e levaram tudo. O livro imaginado jamais poderá ser escrito. Mas guardo a memória de uma experiência iniqualável de um chefe de Estado preocupado com a dignidade e o futuro dos pobres.

Oscar Niemeyer e o comunismo como valor


Apesar dos abatimentos nacionais e internacionais deste agônico 2007, tivemos, no dia 15 de dezembro, uma discreta alegria: os cem anos de nosso maior arquiteto Oscar Niemeyer. Sua voz suave e cansada nos conclama para a solidariedade e para uma grande simplicidade de vida. Sua visão de mundo se funda no comunismo, ao qual foi fiel durante toda a vida, em tempos em contratempos,. Mas trata-se de um comunismo como valor ético que visa a resgatar da sociabilidade humana, a capacidade de sentir o outro e de caminhar com ele como companheiro e não como competidor. "É preciso olhar o outro, ser solidário; as pessoas que só pensam em suas profissões não vêem a pobreza; só querem ser vencedores". Para ele o importante "não é ser arquiteto, ser especialista, ser mundialmente reconhecido. O importante é a vida e a amizade. A palavra mais importante da minha vida é solidariedade". Essa solidariedade especialmente para com os pobres, o torna simples como simples são as suas formas arquitônicas. Vive a verdadeira humildade de quem comunga do mesmo húmus (donde vem humildade):"todo mundo é igual; a pessoa vem à Terra, conta a sua historinha e vai embora". Nunca esquecerei uma longa conversa com ele durante um almoço em Petrópolis no final dos anos 70. Naquele dia acabava de retornar de Cuba. Eram ainda os tempos de relativa abundância, antes da queda da União Soviética. Contava-lhe como era universal o sistema de saúde, como o ensino era aberto a todos, independentemente de sua extração social ou racial, como não se viam favelas na ilha e como a população incorporara uma vida de austeridade compartilhada. E referi-lhe as longas conversas com Fidel, noite a dentro, sobre religião e a teologia da libertação que tentava e ainda tenta fazer do Cristianismo uma força de transformação histórica contra a pobreza e a marginalização social. Dizia-lhe citando Frei Betto: "Cuba parece uma Bahia que deu certo". Vi que Oscar ouvia tudo atentamente e seus olhos brilhavam de satisfação.Qual não foi a minha supresa quando dias após li na Folha de São Paulo um artigo dele sobre a nossa conversa com um desenho de sua autoria: duas montanhas uma das quais encimada por uma cruz. E lá dizia: "descendo a serra de Petrópolis, eu que não creio, rezava ao Deus de Frei Boff, para que aqueles benefícios que Cuba realizou para o seu povo, chegassem também, um dia, ao povo brasileiro". Por causa de sua solidariedade para com o povo cubano que sofre ainda um atroz embargo imposto pelos Estados Unidos, está abrindo em Cuba um posto avançado, uma escola de arquitetura, sem qualquer lucro, apenas o necessário para manter o escritório.Pessoas assim nos fazem crer que o ser humano é resgatável, que a voracidade da acumulação privada de riqueza distorce o sentido da vida, que o ideal capitalista é profundamente perverso porque inumano, nada solidáro e alheio à qualquer comiseração para com o próximo.Sua mensagem maior que vale mais que qualquer discurso de alguma autoridade religiosa foi expressa no Jornal do Brasil de 21 de abril deste ano:"O fundamental é reconhecer que a vida é injusta e só de mãos dadas, como irmãos e irmãs, podemos vivê-la melhor".Com estas palavras fechamos 2007 com a esperança de que 2008 comece a realizar o sonho singelo deste ancião sábio e simples que na construção da catedral de Brasília com seus braços estendidos ao céu, deu forma à sua secreta mística da solidariedade, nascida do mais puro ideal comunista.

Leonardo Boff e autor de Virtudes para um outro mundo possivel (três tomos) pela Vozes de Petrópolis.

Cursinhos comunitários, questão étnica e organização de núcloes:

Artigos e dissertações sobre cursinhos comunitários,
questão étnica e organização de núcloes:


Cursinhos pré-vestibulares alternativos no município de São Paulo (1999-2001) – a luta por igualdade no acesso ao ensino superior. Autor: João Galvão Bacchetto
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-07082003-114804/

Reportagem Especial da Revista Caros Amigos do ano de 2001.
http://carosamigos.terra.com.br/da_revista/edicoes/ed67/republica.asp

PRÉ-VESTIBULARES POPULARES, SUA AÇÃO, SEUS DESAFIOS E SEUS PARADOXOS. Autores: Ernesto Grance e María Maneiro
http://lpp-uerj.net/olped/documentos/1002.pdf

MOVIMENTO DE CURSINHOS POPULARES: UM MOVIMENTO TERRITORIAL? Autor: Clóves Alexandre De Castro
http://www.lpp-uerj.net/olped/documentos/1004.pdf

OS CURSOS PRÉ-VESTIBULARES COMUNITÁRIOS E SEUS CONDICIONANTES PEDAGÓGICOS - Autor: JOSÉ CARMELO BRAZ DE CARVALHO
http://www.scielo.br/pdf/cp/v36n128/v36n128a03.pdf

Cursos pré-vestibulares comunitários: Espaços de mediações pedagógicas. Organizadores: José Carmelo Braz de Carvalho, Hélcio Alvim Filho e Renato Pontes Costa
http://www.puc-rio.br/editorapucrio/docs/ebook_pre-vestibulares.pdf

Desigualdades raciais e ensino superior no Brasil. O movimento negro e a
luta pela democratização das universidades - Autor: David Manuel Diogo Justino
http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/becas/2002/edu/diogo.pdf

MOVIMENTOS DE EDUCAÇÃO POPULAR: um estudo sobre os Pré-
Vestibulares para Negros e Carentes no Estado do Rio de Janeiro - Autora: Nelia Regina dos Santos
http://lpp-uerj.net/olped/documentos/0761.pdf

DAS AÇÕES AFIRMATIVAS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÃO AFIRMATIVA: O MOVIMENTO DOS CURSOS PRÉ-VESTIBULARES POPULARES.
Autor: Alexandre do Nascimento
http://www.sociologia.ufsc.br/npms/alexandre_do_nascimento.pdf

A QUESTÃO DIDÁTICA E A PERSPECTIVA MULTICULTURAL: UMA ARTICULAÇÃO NECESSÁRIA - Autoras; Vera Maria Candau e Carmen Teresa Gabriel Anhorn
http://168.96.200.17/ar/libros/anped/0413T.PDF

PRÉ-VESTIBULARES POPULARES: DILEMAS POLÍTICOS E DESAFIOS PEDAGÓGICOS -Autor: Renato Emerson dos Santos
http://lpp-uerj.net/olped/documentos/1027.pdf

RADIOGRAFANDO DOIS CURSOS PRÉ-VESTIBULARES PARA NEGROS E CARENTES EM PORTO ALEGRE-RS- Autora: Dircenara dos Santos
http://www.lpp-uerj.net/olped/documentos/0764.pdf

Ampliando Futuros: O Curso Pré-Vestibular Comunitário da Maré - Autora: Elionalva Sousa Silva
http://www.cpdoc.fgv.br/cursos/bensculturais/teses/CPDOC2006ElionalvaSouzaSilva.pdf

Disseminação de Projetos no Terceiro Setor via Franquias Sociais: Conceituação, Vantagens e Desvantagens - Alexandre Orsolini Duarte, Fernanda Mano Moreira da Silva, Severino Clasen
Vanessa Cristina Sattolo Rolim Storolli*
http://integracao.fgvsp.br/ano7/11/administrando.htm