se quiser saber um pouco mais do mesmo, nada de novo:

A LUTA CONTRA O RACISMO, COMO FORMA DE COMBATER O CAPITALISMO


“O racismo e capitalismo são faces da mesma moeda” Steve Biko

A sociedade brasileira vive por mais de cinco séculos a experiência do capitalismo, que se alicerçou na dinâmica de divisão de classes, entre os explorados e os exploradores, os detentores dos meios de produção e os não detentores. Essa é a dinâmica que permeia a vida dos brasileiros e muitos outros povos em nossa sociedade.

Uma das propostas que se apresentam para a transformação social na superação da sociedade de classes é o socialismo, que se apresenta como modelo alternativo ao qual devemos buscar se não queremos continuar com o atual modelo.

Mas se faz necessário uma reflexão, pois ele se apresenta como uma alternativa para a transformação social, partindo do pressuposto que a sociedade capitalista se divide em duas. O que é correto, no entanto, existem grupos específicos dentro das classes, sobretudo a dos explorados, não detentores dos meios de produção, que são os negros, mulheres, indígenas, LGBT, PNE’s, entre outros, que de certa forma recebem diretamente a ação do capitalismo em suas vidas.

Como sabemos o capitalismo sempre usou a estratégia de dividir para controlar. Desta forma, uma luta anti-capitalismo que não considere as condições sócio-econômicas da posse dos meios de produção sem articular as lutas específicas; e, da mesma forma, uma luta específica que não considere a estrutura econômica que vem se perpetuando há mais de cinco séculos, também estará fadada ao fracasso, pois, como disse o grande líder Sul-africano Steve Biko “O racismo e capitalismo são faces da mesma moeda”.

É com este propósito que a UNEAFRO-Brasil (União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora), se apresenta como uma organização do movimento negro, com consciência de classe, partindo da reflexão de que a luta contra o racismo, o preconceito e todas as formas de discriminação não anula a luta contra a concentração de renda, poder e oportunidades. Ao contrário, elas se somam na busca de uma sociedade livre de injustiças sociais. Viemos para combater o racismo e as discriminações, sejam elas movidas por preconceitos étnicos, de gênero, opção sexual, idade, origem ou opção ideológica. E para superar o capitalismo, escolhemos lutar contra o racismo, usando como tática as ações afirmativas para negros e trabalhadores em geral.

Gestada durante 20 meses, entre 2007 e 2008, fundada em 5 de Março de 2009, em uma ocupação da Faculdade de Medicina da USP, a UNEAFRO-Brasil agrega militantes da causa negra, da luta anti–racista, da causa das mulheres, da diversidade sexual e do combate a todos os tipos de discriminação e preconceito; A UNEAFRO é um movimento social que se organiza em núcleos de atuação em diversas áreas. O trabalho mais conhecido são os cursinhos pré-vestibulares comunitários que atendem jovens e adultos oriundos de escolas públicas, prioritariamente negros/as, que sonham em ingressar no Ensino Superior e preparar-se para o ENEM ou Concursos Públicos. Atualmente, nos organizamos em 42 núcleos, espalhados por 14 cidades do Estado de São Paulo.

Uma marca do movimento social dos cursinhos comunitários e da UNEAFRO são as aulas de “Cultura e formação política”. O foco didático-pedagógico desta disciplina, baseado na abordagem transversal de conteúdos sociais e étnico-raciais, busca trabalhar os temas diferentes métodos, através de palestras, dinâmicas, filmes, teatro e seminários em grupo. Há nas aulas e atividades formativas de nossos núcleos um propósito de combater o automatismo da educação preparatória para o vestibular, desprovida de criticidade ou leitura do mundo onde está inserido o educando.


O diálogo constante com a comunidade permite aos educadores reelaborarem o enfoque dado aos temas e atualizarem informações com interação com as disciplinas tradicionais. A formação politizada, popular e diferenciada dos modelos tradicionais torna-se desafio de todo corpo docente. Os cursinhos pré-vestibulares e os demais núcleos de base cumprem o papel, de levar para a sala de aula e para parcela da população da periferia a oportunidade de aprofundar temas próprios de sua realidade e provocar ações de visem mudança. Brota ali a teoria socialista, a partir da luta concreta da juventude, dos negros, mulheres, desempregados, de toda classe trabalhadora reunida no núcleo, o nosso quilombo.

E uma das formas de lutarmos é através de adoção de ações afirmativas e cotas, em todos os espaços de poder, principalmente nas Universidades. Outra forma que utilizamos para combater as discriminações é por meio da organização comunitária, em núcleos de base, educação popular, formação política, intervenção cultural ou prática de esportes.
Nossa luta não é apenas por cotas, bolsas estudos, educação ou emprego! Temos a consciência que a nossa luta é maior. Sonhamos com uma nova sociedade! Queremos a transformação social! Um caminho para que tenhamos mais força para a grande revolução, é o fortalecimento das lutas do povo, como forma de reparação das injustiças cometidas pela escravidão, pela Igreja, pelo latifúndio, pelo mercado de trabalho, pelo racismo e a subversão da lógica imposta pelos meios de comunicação de que cada um deve lutar sozinho pelo seu próprio espaço.

Na questão das ações afirmativas, um ponto polêmico refere-se a sua dimensão socioeconômica. Neste assunto, há o entendimento conforme se segue:

“A importância das políticas de ações afirmativas está no fato de que são políticas materiais de reparação e de redistribuição que estabelecem uma recomposição do social, do econômico, do político e do cultural, pois abalam estruturas constituídas e naturalizadas da sociedade. As políticas de cotas inserem-se nesta lógica, pois abalam o valor do mérito interiorizado em todos nós. Ora, o que define mérito é merecimento e não competência. Partilhar os bens sociais baseados no merecimento individual é tentar privilegiar igualmente indivíduos em situação de desigualdade.”[1]


E como disse uma dos maiores intelectuais brasileiros, Caio Prado Jr em sua obra “A revolução brasileira”:

“[...] a diversidade da realidade brasileira, assim como os aspectos culturais, de modo geral, não são considerados pela esquerda brasileira. Esse desconhecimento cria obstáculos para a unificação das forças, na medida em que o discurso da vanguarda revolucionária não sensibiliza outros grupos subalternos, e que, com isso, não criam uma base social hegemônica [...]” (PRADO, 1972, p. 20)

É com essa interpretação das palavras de Caio Prado Jr. e de outros intelectuais, como Florestan Fernandes e Clovis Moura, que afirmamos que a questão do racismo esta umbilicalmente ligada com a questão da luta de classes no Brasil, porque o capitalismo brasileiro foi edificado com base na acumulação primitiva de riquezas construída com a exploração da mão de obra de africanos escravizados.
Além disto, a geopolítica do capitalismo mundial se organizou com base no controle do tráfico de escravos (feito pela Inglaterra) e pela intermediação dos produtos produzidos com a mão de obra escrava, como o açúcar (também feito pela Inglaterra). Assim, este dado histórico selou a hegemonia européia e a ruína da África e da América Latina em função da concentração das riquezas no primeiro continente, no despovoamento e saque da África e do saque de riquezas e recursos da América Latina. Por isto, a emancipação do negro e do continente africano e latino-americano só será possível com uma brutal transformação no sistema social e, principalmente, na redistribuição das riquezas.

Não há como lutar contra o racismo e conceber a continuação das explorações decorrentes do sistema capitalista e neoliberal. Da mesma forma, não há como lutar por uma nova sociedade, sem explorações e sem concentração de renda, se não lutarmos contra o racismo. É nesse sentido que defendemos de forma incondicional Ações Afirmativas para negros e pobres, como ferramenta de combate à concentração de renda e meio de empoderamento daqueles que foram os mais prejudicados pelo sistema capitalista, que são os herdeiros de Zumbi e Dandara! Axé! Por uma nova sociedade!


Conselho Geral da UNEAFRO-Brasil
(
União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora)


Bibliografia:

NASCIMENTO, Alexandre do. O Programa Diversidade na Universidade e a construção de uma política educacional anti-racista. Brasília, UNESCO, 2007.

PRADO Jr., Caio. A revolução brasileira. São Paulo, ED. Brasiliense, 1972,4ª ed.;



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